Ao longo de toda a semana, comarcas fora do eixo da BR recebem a equipe da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça de Rondônia, para ações educativas e de conscientização de combate a violência contra a mulher. A programação, que acontece três vezes ao ano, março (mês da mulher), agosto (aniversário da Lei Maria da Penha) e novembro (mês internacional de combate a violência doméstica), sempre ganha um olhar cuidadoso do TJRO, que este ano privilegia os municípios mais distantes: Alta Floresta D’Oeste, Santa Luzia, Alvorada, Nova Brasilândia e Presidente Médici, único que fica na BR 364, mas nunca havia recebido as ações.
“Nós escolhemos fazer a interiorização da Coordenadoria da Mulher. Levar para o interior palestras, rodas de conversa, panfletagem, entre outras ações para difundir os direitos da mulher em todas as comarcas”, disse o desembargador Álvaro Kálix Ferro, no evento de abertura da Semana, na comarca de Alta Floresta D’Oeste, a 528 km da capital. O desembargador agradeceu a presença dos parceiros da rede de proteção à mulher, presentes no evento, sem os quais não seria possível o enfrentamento aos casos. Ele também fez a palestra “Gênero, masculinidades e violência contra a mulher”, momento em que com bastante interação do público, pôde questionar os estereótipos atribuídos às mulheres ao longo da história.
O desembargador reforçou a necessidade de se quebrar os paradigmas de papéis predefinidos a partir de padrões patriarcais, que retiram da mulher oportunidades. “São construções sociais que só oprimem. É preciso mudar essa masculinidade, tóxica inclusive para os próprios homens”, disse ao referir-se a falas comuns como “homem não chora”, “tem que ser homem”, entre outros.
Para o juiz da comarca, Haroldo Araújo, a oportunidade de sediar a abertura da semana passa uma mensagem de inclusão. “Aqui no estado de Rondônia a preocupação com o direito e respeito às mulheres alcança todas as comarcas, independente da distância geográfica”, destacou o magistrado que acredita numa mudança a partir dessas ações educativas.
A defensora pública Lúcia Moreira também destacou a importância da mobilização do Judiciário e da sociedade. “Na minha atuação como defensora nos pedidos de medidas protetivas me surpreendo bastante com a falta de informação que nós mulheres ainda temos com relação aos nossos direitos”, revelou.
A representante da OAB, advogada Josana Guaitolini, reafirmou o compromisso da instituição com a causa. “A violência contra a mulher é um problema estrutural que exige a união de todas as instituições da sociedade civil para divulgar a cultura de paz na sociedade”, disse.
O promotor Rodrigo Nicoletti lembrou a pertinência de se abrir a semana em Alta Floresta, visto que o município registra altos índices de violência doméstica. Ele destacou as parcerias como forma de mudar a mentalidade da sociedade. “Sabemos o quanto o machismo impera na nossa sociedade ainda, as formas de violência que existem, e o estado tem que combater isso”, defendeu Nicoletti.
O promotor rememorou a campanha “uma vida sem violência é um direito de todas as mulheres”, iniciativa encampada pelo MP que envolveu toda sociedade, inclusive as escolas, com concurso de redação e de peças teatrais. Um dos espetáculos premiados foi destaque na abertura da Semana da Paz em casa.
As cenas representadas pelos alunos do terceiro ano do ensino médio da escola Juscelino Kubistchek de Oliveira causaram grande impacto. Com o título “Marido exemplar”, a peça contou a história de um casal que começa a rotina de convívio baseado em violência, impressionando o público presente pelo realismo e pelo talento dos estudantes.
Psicossocial
Paralelas às audiências concentradas que ocorrem em todas as comarcas durante a Semana da Paz em Casa, as equipes psicossociais atuam na parte de prevenção, explicando os ciclos da violência, quais os canais de denúncia e como ajudar quem sofre violência doméstica. “São todas ações desenvolvidas visando médio e longo prazo para que possamos melhorar os índices que temos hoje que apontam Rondônia como um dos estados mais perigosos para se viver enquanto menina ou mulher”, esclareceu a psicóloga Aline Dantas, chefe de equipe da Coordenadoria da Mulher.
Joyce Mancini de Oliveira, assistente social que atua em Alta Floresta reforça essa percepção. “O machismo está intrinsecamente ligado ao contexto de violência, por isso tentamos fazer um trabalho de formiguinha junto à rede, às escolas, para que mais mulheres tenham acesso à informação, entendam seu lugar, entendam o que podem e o que são capaz, para poder romper com esse ciclo de violência, que não é fácil”, observou.
Paz em casa e na aldeia
A programação da Semana da Paz em Casa seguiu, pela parte da tarde, até a aldeia São Luiz, na Terra indígena Rio Branco, a 70 km de Alta Floresta D’Oeste e a 600 km de Porto Velho. Cerca de 200 pessoas vivem na comunidade, de 13 etnias diferentes, entre elas, Aruá, Kanoé, Jaboti e Macurap.A equipe do Tribunal de Justiça de Rondônia fez palestras com jovens e adultos e trabalhou com material lúdico para orientar as crianças sobre o respeito nas relações dentro das famílias. A atividade ocorreu no pátio da escola da comunidade, que agradeceu a presença do Judiciário para falar do tema.
(Assessoria de Comunicação Institucional/TJRO)
Fonte: Tribuna Popular