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A generosidade das águas – por Marquelino Santana

 

A sua harmonia e embelecimento provoca o deslumbramento e a volúpia da natureza em estesia. É fabulosa e fascinante sob o olhar daqueles que continuam acreditando e preservando as suas passagens silenciosas ou barulhentas das suas imensuráveis manobras encachoeiradas que suntuosamente encanta a impoluta e complacente morada humana da terra.

A sua colossal viagem abraça o mundo, contagia olhares do campo a cidade, e abrem veias no chão para oferecer a humanidade o seu mais precioso e dadivoso alimento. Ela é poetizante, e por isso, enriquece a linguagem poética, e torna cada vez mais sonhador, o poeta que sobrevive entranhado à sua radiante beleza. O filósofo e poeta francês, Gaston Bachelard, nos diz que o poeta mais profundo encontra a água viva, a água que renasce de si, a água que não muda, a água que marca com seu signo indelével as suas imagens, a água que é um órgão do mundo, um alimento dos fenômenos corredios, o alimento vegetante, o elemento lustrante e o corpo das lágrimas.

A sua virtuosidade inenarrável com seus encantos e encantarias, renasce fenomenologicamente na essência da alma que nos inspira a escrever com o prazer inefável dos sentidos. Sobre esse fascínio das águas, o geógrafo Eric Dardel, nos informa que “por sua mobilidade, pelo salto soletrado da corrente ou pelo movimento ritmado das vagas, as águas exercem sobre o homem uma atração que chega à fascinação. Palavra discreta ou turbulenta, acariciante ou ameaçadora, que dá ao rio ou ao mar uma personalidade”.

A sua corrente sem mácula vivifica o ser, exalta as árvores que para sobreviverem sugam a sua doçura com as suas raízes e abastece a alma do caboclo da Amazônia pelas vias prazerosas da vida. Para o escritor João de Jesus Paes Loureiro, “por essa via prazerosa, o homem da Amazônia percorre pacientemente as inúmeras curvas dos rios, ultrapassando a solidão de suas várzeas pouco povoadas e plenas de incontáveis tonalidades de verdes, da linha do horizonte que parece confinar com o eterno, da grandeza que envolve o espírito numa sensação de estar diante de algo sublime”.

A sua iniludível beleza na sua desmesurada magnitude, transporta com empatia e exuberância, uma autêntica rede de ensinamentos para sensibilizar a consciência humana de que é possível homem e natureza sobreviverem entrelaçados sem precisar utilizar a cruel ferramenta da violência. Respeitemos a generosidade das águas!

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